Veja o que se sabe sobre vacinação de crianças com doses para adultos em Lucena, PB

Por Vale do Piancó -PB em 17/01/2022 às 16:42:53
Pelo menos 48 crianças receberam vacinas inadequadas em uma UBS da cidade. Cartões de vacina mostram que um menino tem 5 e o outro 7 anos de idade; vacina aplicada era destinada apenas a adultos

Reprodução redes sociais

Pelo menos 48 crianças foram vacinadas contra a Covid-19 com doses para adultos em uma Unidade Básica de Saúde (USB) da cidade de Lucena, na Região Metropolitana de João Pessoa. A vacinação teria acontecido desde dezembro de 2021 e o fato veio à tona no sábado (15), após denúncia apresentada ao Ministério Público Federal (MPF).

Veja o que se sabe sobre a vacinação de crianças com doses para adultos em Lucena:

Onde aconteceu a irregularidade?

A aplicação das vacinas aconteceu em uma Unidade Básica de Saúde (UBS), que fica na Zona Rural da cidade de Lucena, na Região Metropolitana de João Pessoa, e em uma âncora desta mesma unidade em um assentamento na cidade.

Aplicação das vacinas para adultos em crianças aconteceu em uma Unidade Básica de Saúde (UBS), que fica na Zona Rural da cidade de Lucena,

Reprodução

Quantas crianças foram vacinadas?

O secretário de Saúde da Paraíba, Geraldo Medeiros, disse no domingo (16) que pelo menos 60 crianças haviam sido vacinadas na UBS de Estiva desde dezembro. Porém, nesta segunda-feira (17), o prefeito de Lucena, Leo Bandeira (Solidariedade), informou que o número exato de crianças que receberam as doses irregulares foi 48.

Prefeito de Lucena, na PB, fala sobre aplicação de doses irregulares de vacina em crianças

Quando foram aplicadas as doses?

Em depoimento dado ao MPF na tarde do domingo (16), a técnica informou que aplicou as doses nos dias 29 de dezembro de 2021 e 7 e 11 de janeiro de 2022, ou seja, antes de iniciar o calendário de vacinação para crianças entre 5 e 11 anos, que começou no último sábado (15).

Qual era o lote das vacinas? Ele estava vencido?

A vacina da Pfizer usada nas crianças fazia parte do lote FN3457, destinado a adolescentes e adultos.

Segundo a Secretaria de Estado da Saúde, as vacinas armazenadas em temperatura de 2ºC a 8?C devem ser usadas em até 30 dias para que a eficácia do imunizante seja mantida. Agora, a SES investiga se esse período de 30 dias já havia passado entre a distribuição para Lucena e a aplicação nas crianças no dia 29 de dezembro. Caso seja confirmado, as vacinas são consideradas vencidas.

Em casos como esses, de prazos vencidos, a orientação é que os imunizantes sejam devolvidos à Secretaria de Saúde, para que sejam encaminhados ao Ministério da Saúde para incineração.

O que teria causado a vacinação incorreta?

O prefeito de Lucena disse que ainda não pode precisar o que provocou a imunização indevida das crianças. Mas, que houve falha de comunicação.

De acordo com ele, alguns profissionais de saúde do município - que trabalham nas ações de imunização - não teriam participado de treinamentos pela internet, para a aplicação das doses.

O prefeito também informou que acredita que a técnica de enfermagem que aplicou os imunizantes pode ter confundido a ordem de vacinar todas as pessoas do público-alvo da vacinação, nos momentos da imunização incorreta, com a inclusão das crianças.

O que relataram pais e responsáveis?

As mães de algumas crianças vacinadas em Lucena relataram à reportagem da TV Cabo Branco efeitos colaterais em seus filhos. A agricultora Maria das Neves levou o filho de 10 anos à UBS após receber uma ligação de sua cunhada informando que tinha vacinado a sobrinha dela.

"Teve febre depois da vacina, uma gripe que deu nele que até agora ele tá gripado. E passou quatro dias com o braço sem poder mexer", contou Maria das Neves.

Mães de crianças vacinadas contra Covid-19 com imunizante de adulto e vencido relatam efeitos colaterais

TV Cabo Branco/Reprodução

Janete Quirino relata que sua filha tinha 9 anos quando recebeu o imunizante. Uma semana depois de vacinada, ela começou a apresentar sintomas gripais, e voltou à UBS.

"Febre alta, 40 graus de febre e vômito. Deu dipirona [na UBS] e a médica consultou, ficou em observação em casa, tomando vitamina C e antitérmico. A médica viu [o cartão de vacinação] e não disse nada", ressaltou.

Mães de crianças vacinadas contra Covid-19 com imunizante de adulto e vencido relatam efeitos colaterais

O secretário de Estado da Saúde, Geraldo Medeiros, no entanto, afirmou que as crianças não apresentaram eventos adversos graves. Ele confirmou que uma delas apresentou episódio de vômito, febre e dor no local da vacinação. “Mas todas elas estão em casa, evoluindo bem e um dos fatores que pode ter contribuído é que elas estavam vencidas, então seu fator de imunogenicidade é menor e consequentemente os eventos adversos podem ser menores”, explicou.

As crianças estão sendo monitoradas?

Segundo informou o prefeito de Lucena, Leo Bandeira (Solidariedade) nesta segunda-feira (17), as crianças estão sendo acompanhadas por uma equipe específica designada para esta função. “Temos uma equipe acompanhando diariamente, casa por casa, para saber se [as crianças] tiveram reação ou problemas”, disse.

Ainda conforme o gestor municipal, médicos e enfermeiros vão diariamente até as casas das crianças. Se alguma anormalidade for identificada, a equipe de saúde do município vai decidir qual procedimento adotar.

Por outro lado, a mãe de duas crianças vacinadas de forma incorreta disse em depoimento ao MPF-PB que os filhos não receberam acompanhamento de nenhum órgão de saúde.

A Secretaria de Estado da Saúde informou que também acompanha as crianças.

As crianças vão ser revacinadas?

O secretário Geraldo Medeiros explicou que a orientação do Programa Nacional de Imunização (PNI) é de que a partir de quatro semanas, as crianças sejam revacinadas com a dosagem pediátrica, de um terço da dose do adulto e com vacinas em pleno prazo de validade.

Secretário de saúde da PB fala sobre vacinação irregular de crianças contra Covid-19

Quem vai ser responsabilizado?

Em uma entrevista coletiva para a imprensa, realizada na tarde desta segunda-feira (17), o prefeito de Lucena informou que a técnica de enfermagem que aplicou as vacinas, uma enfermeira do mesmo grupo de saúde, a chefe de imunização do município e o secretário municipal de saúde foram afastados dos cargos por causa da vacinação incorreta.

O Ministério Público Federal (MPF) informou, também nesta segunda (17), que existe um procedimento aberto por meio do qual está acompanhando o caso. Segundo o órgão, ainda é muito prematuro afirmar algo nesse sentido porque as pessoas estão sendo ouvidas e a responsabilização que o MPF está apurando não é apenas no âmbito individual da pessoa que aplicou as vacinas, mas também do agente público, do município.

O prefeito de Lucena disse ainda que a prefeitura já abriu um procedimento administrativo para apurar o que aconteceu e saber até onde vai a responsabilidade das pessoas envolvidas no caso.

O que diz a técnica de enfermagem?

O g1 teve acesso ao depoimento dado pela técnica de enfermagem ao MPF na tarde do domingo (16). Ela disse que teria recebido uma ordem do setor de imunização da prefeitura de Lucena de que "poderia vacinar todos os que estivessem para se vacinar, pois a validade das vacinas da Pfizer estavam para se vencer".

Ela disse ainda que várias pessoas teriam aparecido no local, incluindo crianças e adolescentes, e que todas receberam a mesma dosagem de vacinas do lote FN3457 e também de um lote com final 3835.

A técnica ainda disse que não recebeu treinamento sobre a vacinação de Covid-19 para adultos ou crianças e que não foi informada de que havia diferença no volume das doses. Ela disse que não sabia da existência de vacinas pediátricas em Lucena e que não poderia vacinar crianças com vacinas de adultos.

Como vai seguir a vacinação em Lucena?

A Secretaria de Estado da Saúde informou que não vai mais enviar vacinas para Lucena e vai mobilizar equipes da própria secretaria para vacinar a população da cidade.

Qual a vacina com autorização para ser aplicada em crianças no Brasil?

A vacina que tem autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para aplicação em crianças de 5 a 11 anos no Brasil é a Comirnaty, fabricada pela Pfizer e especialmente desenvolvida para esse público.

A dose para as crianças entre 5 e 11 anos de idade é 1/3 da formulação aprovada para adolescentes e adultos no Brasil.

A formulação pediátrica é diferente e, portanto, não pode ser utilizada a formulação de adultos diluída.

O frasco da vacina para crianças tem uma cor diferente daquela aplicada em adultos, para ajudar os profissionais de saúde na hora de aplicar a vacina.

Em outubro, a Pfizer disse que o imunizante é seguro e mais de 90,7% eficaz na prevenção de infecções em crianças de 5 a 11 anos.

Pediatra explica como funcionam os imunizantes contra Covid-19 no organismo das crianças

Como identificar se a vacina para crianças está correta?

A vacina da Pfizer destinada a crianças tem a tampa laranja, para facilitar a diferenciação com o imunizante também fabricado pela Pfizer para aplicação para maiores de 12 anos, que é roxa. Os pais e responsáveis podem pedir ao profissional de saúde para conferir a embalagem no local de vacinação.

Frascos da vacina da Pfizer em versão pediátrica (laranja) e a partir dos 12 anos (roxa)

Tobias Schwarz/AFP

O que o Ministério da Saúde diz?

Em nota, o Ministério da Saúde disse que acompanha os casos das crianças que foram vacinadas contra a Covid-19 com doses destinadas a adultos e recomenda cautela na aplicação das doses aos profissionais e agentes de saúde responsáveis. Conforme o texto, “a Pasta monitora todos os eventos adversos relacionados com as vacinas contra a Covid-19” e “cabe aos gestores locais do SUS o armazenamento correto, acompanhamento da validade dos frascos e aplicação das doses, seguindo à risca as orientações do Ministério”.

Ministro da Saúde fala sobre vacinação irregular de crianças contra Covid, em Lucena, PB

Nesta segunda-feira (17), o ministro da saúde Marcelo Queiroga visitou a cidade de Lucena. Em entrevista à TV Cabo Branco, ele disse que está fazendo um monitoramento rigoroso para verificar a ocorrência de possíveis eventos adversos.

"Essas vacinas foram aplicadas de maneira inadvertida, é o que consideramos erro vacinal. São 48 crianças e incumbe às autoridades sanitárias locais e do Estado fazer essa vigilância", disse Queiroga.

Queiroga recomendou, ainda, que os menores de 11 anos que receberam dose de vacina contra Covid-19 destinada a adultos devem ser examinados para descarte de qualquer efeito colateral grave. A informação foi publicada no site do Ministério da Saúde.

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