Dia da Educação: professora relata desafios e conquistas do ensino de Jovens e Adultos na Paraíba

Por Vale do Piancó -PB em 28/04/2022 às 08:51:01
De acordo com a Secretaria de Estado da Educação e da Ciência e Tecnologia, 57.056 mil estudantes se matricularam na modalidade EJA em 2021. Foram 6.362 mil novas matrículas realizadas em relação ao ano anterior. Modalidade de ensino, a Educação de Jovens e Adultos enfrenta desafios na Paraíba

Thiago Gadelha/SVM

Há 9 anos, a paraibana Alena Sousa de Melo ingressou como professora no ensino de jovens e adultos. O estudo das ciências biológicas, que é a área de formação dela, passaria a ser ensinado mediante novos desafios, mas a licenciatura também alcançaria várias conquistas. Nesta quinta-feira (25) é celebrado o Dia da Educação.

A EJA é uma modalidade de ensino que desempenha o objetivo de ofertar, aos estudantes que não tiveram oportunidade, a conclusão da educação Básica no tempo apropriado. uma oportunidade de ascenção, são alguns dos casos que compõem o grupo de estudantes da Educação de Jovens e Adultos (EJA).

"Oferecer oportunidade aos estudantes de construírem novos projetos pessoais a partir do conhecimento", justifica Alena, sobre a importância da educação.

Projetos são desenvolvidos para estudantes da Educação de Jovens e Adultos na Paraíba

Alena Melo/Arquivo pessoal

A EJA é uma modalidade de ensino que desempenha o objetivo de ofertar, aos estudantes que não tiveram oportunidade, a conclusão da educação básica.

De acordo com a Secretaria de Estado da Educação e da Ciência e Tecnologia (SEECT), na Paraíba, as séries do ensino fundamental e do ensino médio da EJA são organizadas em ciclos.

O ensino fundamental tem duração de quatro anos e compreende os Ciclos I (equivalente ao 1º, 2º e 3º anos da modalidade regular); Ciclo II (equivalente aos 4º e 5º anos); Ciclo III (equivalente aos 6º e 7º ano); e o Ciclo IV (equivalente aos 8º e 9º anos).

O ensino médio, com duração de dois anos, compreende os Ciclos V (equivalente à 1ª e 2ª série do ensino médio regular) e o Ciclo VI (equivalente à 3ª série do ensino médio).

"Por ser um público adulto, os estudantes são mais colaborativos e se relacionam bem com os professores. São estudantes que, por estarem retornando à escola, buscam ter uma maior concentração nos momentos de aulas", contou a professora.

Em contrapartida, "há baixa mobilização de recursos e falta de investimento para campanhas de matrículas, de permanência dos estudantes e de valorização dos professores que atuam na EJA", ressaltou Alena.

Outros desafios, segundo a professora, envolvem questões sistemáticas, a exemplo das últimas edições do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), que não contemplou a aquisição de livros específicos para a modalidade.

Há também a problemática da pouca presença ou ausência de profissionais, como psicólogos e coordenadores pedagógicos, que possam atender os estudantes e auxiliá-los no retorno à escola e na construção dos projetos de vida.

Estudantes sentem efeitos da exclusão

A escola em que Alena trabalha dispõe de todas as modalidades de ensino. No calendário letivo, que é onde ficam as programações de eventos e atividades escolares, não eram incluídos os alunos da EJA, que se concentravam no período da noite. Uma aluna chegou a questionar à professora:

"A escola nunca faz nada para a EJA", disse incomodada.

Alena, então, percebeu como a falta dessas atividades influenciavam o desempenho dos alunos no dia a dia. Juntamente com outros professores e demais alunos, planejaram uma Feira Cultural, onde a comunidade escolar poderia expor os trabalhos literários e artísticos, desenvolvidos no decorrer das disciplinas.

O diferencial do evento é que, promovendo a inclusão, houve uma extensão dos participantes convidados. Os filhos das estudantes que são mães também puderam estar presentes.

E, em um esforço coletivo envolvendo a gestão, os estudantes, os funcionários e os professores, conseguiram reunir recursos e o evento agora faz parte do calendário escolar regular, com o propósito de levar ciência, arte, cultura e entretenimento aos estudantes e à comunidade da escola.

Apesar das atitudes internas, geralmente desenvolvidas pelos próprios professores, Andreza Silvestre, que é aluna do ensino médio da modalidade EJA, contou que sofre preconceito quando menciona a escolaridade.

"Já fui criticada e falaram que preferi seguir pelo caminho mais fácil, mas não é bem assim", contou.

Andreza disse que, para ela, a EJA foi uma oportunidade de concluir os estudos porque, desde muito cedo, precisou ingressar no mercado de trabalho para garantir o sustento pessoal e familiar.

Feira Cultural promoveu ações de ciências, tecnologia e artes, para os alunos da Educação de Jovens e Adultos

Alena Melo/Arquivo pessoal

Matrículas na EJA apontam crescimento na Paraíba

De acordo com a SEECT, 57.056 mil estudantes se matricularam na modalidade EJA em 2021. Foram 6.362 mil novas matrículas realizadas em relação ao ano anterior, quando 50.694 alunos ingressaram.

Em 2019, 50.429 alunos se matricularam, o que representa um crescimento de 13,14% em 2 anos.

Esse aumento, no entanto, vai na contramão da média nacional, que registrou uma queda de 9,51%.

Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), foram 3.273.668 milhões de matrículas realizadas no ano de 2019.

Em 2020, no entanto, existe um saldo negativo de 270.919 mil matrículas em relação ao ano anterior.

A tendência de queda também atingiu 2021, quando 2.962.322 milhões de estudantes se matricularam em todo o país.

Esses dados registram, contudo, uma queda de 311.346 mil estudantes matriculados em 2 anos a nível de Brasil.

Segundo o Inep, foram 1.725.129 milhões de matrículas realizadas no EJA para o ensino fundamental e 1.237.193 milhões para o ensino médio.

Alunos do EJA recebem menos investimentos

O g1 conversou com o professor Timothy Ireland, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), e também coodernador da Cátedra da Unesco em Educação de Jovens e Adultos.

Timothy explicou que a pandemia da Covid-19 foi um fator considerável para a queda no múmero de matrículas, mas a problemática não gira em torno apenas dessa justificativa.

Durante o período de ensino remoto, muitos alunos não tiveram suporte com relação aos materiais que precisavam para participar das aulas: computadores, smartphones, tablets, acesso à Internet, auxílio para custear energia elétrica. Esses foram alguns dos motivos a princípio.

Porém, o que tem provocado essa realidade, a partir de um olhar mais sistemático, são as sucessivas perdas econômicas que o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) vem enfrentando desde 2016.

Historicamente, a EJA recebe o menor investimento entre todas as modalidades da educação básica, e também teve o menor crescimento em 13 anos. Isso influencia diretamente a questão da infraestrutura das escolas, na compra de materiais didáticos e outros recursos necessários.

Os alunos precisam, inclusive, devolver os livros didáticos quando concluem o ano letivo.

O gasto público com educação atingiu em 2021 o menor patamar desde 2012, segundo estudo divulgado na semana passada pela organização não governamental Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc).

Em 2021, o valor das despesas autorizadas em educação (R$ 129,8 bilhões) foi cerca de R$ 3 bilhões superior ao de 2020 (R$ 126,9 bilhões). Mas a execução financeira foi menor (R$ 118,4 bilhões), indica o estudo (os valores, obtidos no Portal Siga Brasil, do orçamento federal, foram corrigidos pela inflação).

Segundo o Inesc, entre 2019 e 2021, a execução diminuiu R$ 8 bilhões em termos reais (de R$ 126,6 bilhões para R$ 118,4 bilhões).

Para 2022, o instituto observa que o valor autorizado para educação (R$ 123,7 bilhões) é R$ 6,2 bilhões menor que a verba de 2021 (R$ 129,8 bilhões).

Em decorrência dessas perdas, ainda persiste a questão dos baixos salários dos profisisonais da Educação, que refletem na falta de capacitação e qualidade de vida desses trabalhadores.

Valorizar o EJA não é uma prioridade

O professor Timothy explicou que o EJA recebe bem menos investimentos do que as modalidades de ensino regular do ensino básico. "Por que uma pessoa adulta vale menos do que uma criança?", questionou.

A categoria de professores brigam pelo cumprimento do Plano Nacional de Educação (PNE), que define metas para serem executadas pelo Ministério da Educação (MEC).

Timothy mencionou duas das metas definidas para serem cumpridas até 2024. Uma delas seria "universalizar a alfabetização a nível de Brasil". Segundo o pesquisador, faltam 2 anos para alfabetizar 11 milhões de jovens e adultos.

Outra meta seria integralizar 25% do EJA, entre as disciplinas regulares e o ensino profissionalizante, para todos os estudantes. Conforme o professor que acompanha o andamento desses cumprimentos, menos de 2% foi alcançado até agora.

Em 10 anos, de 2010 a 2019, o Brasil viu o número de escolas de educação básica aumentar 12%, de 255.445 para 286.014. No mesmo período, porém, o número dessas escolas que oferecem o EJA do ensino fundamental recuou 34%, segundo um levantamento feito pelo g1 na série "Adultos sem diploma".

"Fica difícil ser otimista com esse cenário na educação do país. A gente vai nadando contra a corrente, mas o importante é não desistir", lamentou.

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