JBr 50 anos: das páginas para história

Por Vale do Piancó -PB em 06/12/2022 às 01:07:17

Gabriel de Sousa
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Para se consolidar como um veículo de grande prestígio nestes 50 anos, o Jornal de Brasília contou com a ajuda essencial da competência e da garra de repórteres e editores que buscavam, acima de tudo, fazer as melhores coberturas possíveis de grandes acontecimentos que marcaram a história recente do Distrito Federal e do país.

Por conta da qualidade das nossas notícias, que sempre foi a maior aspiração dos profissionais do JBr, diversas reportagens ficaram na memória dos nossos leitores, entre elas “furos” que confirmaram o prestígio do jornal. Sete delas serão lembradas hoje, nesta série especial que, iniciada ontem, relembra fatos marcantes que foram vistos de perto pelos nossos repórteres nestas cinco décadas.

GENERAL FIGUEIREDO É O ESCOLHIDO

O Jornal de Brasília teve o privilégio de abrigar em sua redação gerações de repórteres que escreveram seus nomes na lista dos grandes profissionais do jornalismo brasileiro. Um deles foi Jorge Bastos Moreno, que desde cedo se firmou como um grande repórter político capaz de colecionar “furos” (notícias exclusivas) marcantes de reportagem.

Falecido em 2017, Moreno trabalhou no JBr durante os primeiros anos de circulação do periódico. Em 4 de janeiro de 1978, aos 23 anos, o jornalista deu o seu primeiro grande furo quando era repórter no JBr. O país vivia sob a ditadura militar quando, diferentemente do que acontece hoje, os presidentes não eram escolhidos pelo voto popular, e sim pela alta cúpula das Forças Armadas.

Logo no início da manhã daquele 4 de janeiro, Moreno recebeu uma grande missão de Paulo Rehder, então editor-chefe do veículo: ele deveria ir para a Granja do Torto para tentar descobrir quem seria o sucessor do então presidente Ernesto Geisel, que iria passar a faixa em março do ano seguinte. O jornalista decidiu tentar falar com o general João Baptista Figueiredo, então chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI), o principal órgão de inteligência da ditadura.

“Ele perguntou o que eu estava fazendo ali. Aí, eu falei que eu estava ali para conversar com ele. "Conversar sobre o quê?", ele me perguntou. Estão dizendo que o senhor pode ser o futuro presidente da República. Ele disse: "Quem te falou?" Eu falei: "As fontes, general". Aí ele: "Eu fui escolhido para ser o futuro Presidente da República”. O furo nacional, claro, foi estampado no JBr em edição extra.

CIRCO NO CONGRESSO PROVOCA CRISE

No início de setembro de 1985, André Gustavo Stumpf, então editor-chefe do Jornal de Brasília, passou na frente do Congresso Nacional e viu uma cena curiosa: um circo estava sendo montado no gramado da Esplanada dos Ministérios de forma que, de longe, a sua posição poderia ser confundida com a cúpula do Senado Federal.

Quando voltou para a redação, Stumpf conversou com a sua equipe de fotografia, que contava com o experiente fotógrafo Carlos Menandro. Ele foi o responsável por registrar uma foto que capturou de forma perfeita o circo no lugar da Casa dos senadores da República. Apostando na ironia, a edição de 5 setembro daquele ano estampava o registro em sua capa e destacava que “qualquer semelhança era uma mera coincidência”.

A fotografia logo repercutiu em todo o país, e garantiu para o JBr o prêmio Esso de fotografia em 1985. Stumpf lembra que a publicação gerou uma confusão “deliciosa” com o legislativo, que contou até mesmo com a participação do histórico deputado Ulysses Guimarães.

“Teve uma rádio que colocou Ulysses Guimarães e eu ao vivo, porque eu tinha faltado com respeito com o Congresso, foi uma delícia. […] Houve uma confusão maior com o governo daqui, que era o José Aparecido [ex-governador do Distrito Federal]. Ele ficou chateado comigo porque ele que autorizou colocar o circo”, relembra o ex-editor, até hoje prestigiado jornalista político.

A ÚLTIMA E EMOCIONANTE VIAGEM DE JK

Um dos dias mais tristes da história da capital federal foi o 22 de agosto de 1976, quando o ex-presidente Juscelino Kubitschek morreu em um acidente automobilístico em Resende, no Estado do Rio de Janeiro. Ao receberem a notícia do trágico acontecimento, os repórteres e editores do Jornal de Brasília foram às pressas para a redação.

A edição do dia 23 de agosto exigiu grande mobilização e ficou rica em detalhes, com tudo sobre o acidente e muita repercussão. O resultado refletiu o choque que Brasília sentiu ao perder de forma repentina aquele lhe deu vida em 1960. Sem exagerar em nenhuma linha, o editorial do jornal destacava que, pela primeira vez, uma cidade inteira chorava pela perda de um ente querido.

Os repórteres do veículo ligaram para dezenas de políticos e autoridades para coletar o máximo de depoimentos sobre o tamanho da perda de Juscelino Kubitschek. Mesmo no período da ditadura militar, que tinha a figura do ex-presidente como um dos seus maiores inimigos, o JBr não se encolheu, e deu à JK uma edição à sua altura.

No dia seguinte, 24 de agosto, a cobertura do velório de Juscelino estampava as manchetes. O adeus ao ex-presidente reuniu 100 mil pessoas, sendo que, na década de 70, Brasília tinha apenas meio milhão de habitantes. Na capa, uma fotografia de Juvenato Amorim mostrava Dona Sarah Kubitschek recebendo os pêsames de uma autoridade da Igreja Católica. A foto é até hoje um dos mais marcantes registros dos dias em que a capital parou.

UMA DAS ÚLTIMAS ENTREVISTAS DE TANCREDO

No dia 15 de janeiro de 1985, o regime militar teve o seu fim decretado com a vitória de Tancredo Neves, que se tornou o primeiro civil eleito em 25 anos, dando início à Nova República brasileira. Após a sua vitória, por meio de uma eleição indireta, Tancredo decidiu viajar para a Europa e para os Estados Unidos, a fim de expor ao mundo as propostas do novo governo democrático que logo iria se instaurar no Brasil.

Tancredo chegou em Washington no final de janeiro, onde iria, entre outros assuntos, discutir com o presidente Ronald Reagan a renegociação da dívida externa brasileira. Na capital estadunidense estava o então correspondente do JBr André Stumpf, que também fazia um curso nos Estados Unidos e aproveitou a oportunidade para ter uma conversa “olho no olho” com Tancredo.

Trabalhando excepcionalmente como correspondente internacional, Stumpf fez uma entrevista de uma hora e meia com o presidente eleito. Ele só não imaginava que esta seria uma das últimas conversas exclusivas de Tancredo, que um dia antes da posse foi internado às pressas no Hospital de Base de Brasília para tratar de uma infecção. No dia 21 de abril, ele morreria, deixando o país em um luto cuja tristeza ainda é lembrada nos dias atuais. “Dentro da Embaixada, o Tancredo estava todo encapotado, estava todo coberto. Eu achei que ele estava meio doente, ele estava meio inchado”, conta o ex-correspondente do JBr.

O REENCONTRO DE PEDRINHO COM OS PAIS VERDADEIROS

Em novembro de 2002, após uma grande cobertura feita pelos nossos repórteres sobre as eleições daquele ano, os olhares da redação estavam todos em um jovem de 16 anos que vivia em Goiânia. O menino era Pedro Rosaline Braule Pinto que, ao nascer no Hospital Santa Lúcia, no dia 21 de janeiro de 1986, havia sido sequestrado e levado para longe da sua mãe biológica.

Vilma Martins Costa, que estava no hospital agindo como uma falsa auxiliar médica, levou para a sua casa e cuidou do garoto até o ano de 2002, quando a Polícia Civil do Distrito Federal recebeu uma denúncia anônima que contava que um bebê sequestrado em Brasília morava na capital goiana.

No dia 8 de novembro daquele ano, o Jornal de Brasília dedicou grande parte dos seus esforços para fazer uma cobertura completa daquele que poderia ser o desfecho do desespero de uma família que não via o seu filho há 16 anos. Os policiais já tinham todas as evidências de que o menino era filho dos brasilienses Jairo Tapajós e Maria Auxiliadora Pinto, mas ainda faltava uma confirmação científica para definir o retorno de Pedrinho para a sua família.

Toda a redação esperava ansiosamente por um “sim” ou “não”, já que um exame de DNA – que era uma novidade naquela época – iria decidir qual seria o fim daquele caso. Os jornalistas José Luiz Oliveira, Adriana Nicácio, Marcelo Vieira e Lúcia Leal foram os responsáveis por trazerem todas as informações que conseguiram ambientar os brasilienses sobre a expectativa do reencontro. A edição do dia 9 de novembro anunciava o que todos os leitores queriam ler: “Bem-vindo Pedrinho!”.

A DIFÍCIL COBERTURA DO TERRÍVEL CASO RHUAN

Uma das coberturas recentes mais difíceis que a nossa redação enfrentou foi sobre um crime que chocou todo o país no dia 31 de maio de 2019. O menino Rhuan Maycon, de apenas nove anos, foi assassinado em circunstâncias cruéis que chocaram até mesmo os jornalistas mais experientes com os casos policiais. O garoto era cuidado em Samambaia por Rosana Auri da Silva, sua mãe, e pela sua companheira, Kacyla Priscila Santiago, quando teve a sua vida ceifada de forma macabra.

A redação do Jornal de Brasília se empenhou em buscar as principais informações sobre a investigação policial que atraía a atenção da população indignada por tamanha violência. O responsável pela cobertura foi o repórter Olavo David Neto, sob a supervisão dos editores Rudolfo Lago e Vanessa Lippelt. Enviado para o estado do Acre, onde vivia a família de Rhuan, David Neto conseguiu entrevistas exclusivas que emocionaram os leitores.

O JBr foi reconhecido nacionalmente por ser o veículo que mais se aprofundou na investigação do caso. Com exclusividade, foram divulgados vídeos do momento em que as assassinas foram presas no local do crime e em que Rosana Auri detalhou com frieza como tirou a vida do próprio filho. A redação também foi a única a ter acesso a todo o inquérito policial do caso.

Para Olavo, a cobertura presencial no Acre foi psicologicamente muito difícil. O jornalista conta que pensava muito em sua filha, que atualmente tem a mesma idade que Rhuan tinha quando ele foi sequestrado por Rosana e Kacyla. “São questões que, vez ou outra, retornam para a minha cabeça e me pegam meio desprevenido. Foi bem difícil, mas também foi um divisor de águas na minha carreira, foi quando eu vi que eu consegui e conseguiria cobrir casos de uma relevância maior”, conta David Neto.

FURO QUE DEU NOVO RUMO À CPI DA COVID

Em agosto do ano passado, uma cobertura exclusiva feita pelo editor Lindauro Gomes e os repórteres Ary Filgueira e Geovanna Bispo se tornou uma das maiores denúncias que colocaram em xeque a reputação do Ministério da Saúde durante a CPI da Covid.

As atenções da investigação parlamentar estavam na empresa VTCLog, responsável pela distribuição das vacinas contra a covid-19 em todo o país, até que uma descoberta da redação mudou o traçado da investigação, colocando um motoboy como o centro das atenções da comissão parlamentar.

No dia 25 daquele mês, após uma apuração minuciosa nos dados dos documentos norteadores da CPI, os jornalistas revelaram, em primeira mão, que o motoboy Ivanildo Gonçalves da Silva, morador de uma casa humilde em Sobradinho, era responsável por 5% das movimentações atípicas realizadas pela empresa.

O nome do motoboy foi citado diversas vezes pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), mas nenhum outro veículo se atentou de ir atrás de quem era o homem que chegou a sacar R$ 4.763.693 em dinheiro vivo. A revelação feita pelo JBr caiu como uma tempestade perfeita na comissão parlamentar, levando Ivanildo a ser um dos principais personagens do inquérito, onde deu um depoimento no dia 1º de setembro e confirmou as transações em nome da VTCLog.

“Já circulava nas redações de toda a imprensa do Brasil o relatório do Coaf que apontava a presença de movimentações financeiras atípicas da empresa através de saques em algumas agências bancárias de Brasília. Só que todo mundo só olhava os números, e eu, o Ary e a Geovanna observamos que tinha um CPF que fazia muitos saques. A gente humanizou uma história que, antes, só tinha números”, relembra Lindauro Gomes.

Fonte: jornaldebrasilia.com.br

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