A alíquota média de 5,5% paga pelas pessoas com rendimento acima de 160 salários mínimos também é menor do que a paga por muitos profissionais.
Professores do ensino médio, por exemplo, pagaram uma alíquota efetiva de 8,94% no Imposto de Renda de 2022, com uma renda média total de R$ 98.223,79 em 2021.
Já enfermeiros, farmacêuticos e nutricionistas, cuja renda média total foi de R$ 90.381,14, pagaram 8,77% de alíquotas efetivas, enquanto policiais militares pagaram 8,87%, registrando uma renda média de R$ 105.068,06.
Até mesmo os médicos pagaram um percentual maior de IR que os milionários, com uma alíquota média de 9,42% e um rendimento de R$ 415.083,87 em 2021.
Os servidores públicos, que possuíram renda média total de R$ 106.980,94 em 2021, foram os profissionais com as maiores alíquotas, pagando em média 9,54%.
O presidente do Sindifisco Nacional, Isac Falcão, avalia que o motivo do grupo dos mais ricos ter uma alíquota efetiva menor é devido à parcela de renda composta por lucros e dividendos de suas empresas, que é isenta de imposto no Brasil desde 1996.
"A participação relativa dos rendimentos isentos e não tributáveis, como lucros e dividendos, no total da renda declarada aumentou de 32% para 36%. O que demonstra que a regressividade do sistema tributário está se aprofundando, pois os super-ricos estão utilizando esses recursos como nunca, contribuindo ainda menos para a arrecadação federal", explica.
Para entender melhor a diferença do tratamento tributário, o estudo indica que para quem declarou mais de 320 salários mínimos mensais em rendimentos totais, aproximadamente 68% correspondem aos rendimentos isentos e não tributáveis, enquanto apenas 6,68% correspondem aos rendimentos tributáveis brutos.
Por outro lado, nas faixas de rendas inferiores, entre 1 e 2 salários mínimos mensais, aproximadamente 10% correspondem aos rendimentos isentos e não tributáveis e 86,66% correspondem aos rendimentos tributáveis brutos.
Além disso, o documento aponta que a alíquota efetiva paga pelos contribuintes de maior renda caiu por dois anos seguidos, entre 2019 e 2021, enquanto houve crescimento do pagamento de lucro e dividendos nesse período.
Na direção oposta, a alíquota efetiva aumentou no período para rendas de 1 a 15 salários mínimos, logo quem está em faixas de rendimento inferiores, pagaram mais em Imposto de Renda ante o ano anterior.
Já os lucros e dividendos recebidos pelos contribuintes brasileiros totalizaram R$ 555,68 bilhões em 2021, um aumento de 44,61% em relação aos R$ 384,27 bilhões declarados em 2020.
Para o Sindifisco, isso se deve às expectativas de um possível restabelecimento da tributação sobre lucros e dividendos distribuídos, discutido pela equipe econômica do antigo governo.
Com isso, parte do empresariado teria se antecipado na distribuição dos lucros para evitar uma provável taxação.
Dessa forma, a queda da alíquota efetiva para as maiores faixas de renda e o aumento significativo da distribuição de lucros e dividendos indicam uma piora da justiça fiscal, já que os ricos ficaram mais ricos, enquanto pagaram proporcionalmente menos impostos.
"Para que possamos cumprir a constituição — que tem como princípio o respeito à capacidade contributiva — é preciso que sejam aprovadas no Congresso Nacional medidas visando uma maior progressividade do sistema, como a taxação de lucros e dividendos, fundos offshore e fim dos juros sob capital próprio", diz o presidente do sindicato.
*Sob supervisão de Gabriel Bosa
CNN
Fonte: Chico Soares