Entenda investigações contra Braiscompany e por que empresa é suspeita de calote milionário

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Por Vale do Piancó -PB em 01/10/2023 às 19:01:55
Empresa de Campina Grande movimentou cerca de R$ 1,5 bilhão nos últimos quatro anos. Os sócios-fundadores, Antônio Ais e Fabrícia Ais, estão foragidos desde fevereiro deste ano. Sede da Braiscompany, em Campina Grande

Ewerton Correia/TV Paraíba

A Braiscompany é uma empresa fundada e sediada em Campina Grande, no Agreste da Paraíba. A empresa se envolveu em uma polêmica financeira com suspeita de atraso de pagamentos de ativos digitais. Os próprios clientes da empresa denunciaram o suposto golpe nas redes sociais e deram início ao caso, que já rendeu envolvimento do Ministério Público da Paraíba e Polícia Federal.

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A empresa, idealizada pelo casal Antônio Ais e Fabrícia Ais, era especializada em gestão de ativos digitais e soluções em tecnologia blockchain. Os investidores convertiam seu dinheiro em ativos digitais, que eram "alugados" para a companhia e ficavam sob a gestão dela pelo período de um ano. Os rendimentos dos clientes representavam o pagamento pela locação dessas criptomoedas.

A Braiscompany prometia um retorno financeiro ao redor de 8% ao mês, uma taxa considerada irreal pelos padrões usuais do mercado. Milhares de moradores de Campina Grande investiram suas economias pessoais na empresa, motivados pelo boca a boca entre parentes, amigos e conhecidos. Antônio Neto Ais, o fundador da companhia, disse em uma live que gerenciava R$ 600 milhões de 10 mil pessoas.

O início das denúncias

No final de dezembro de 2022, o ator paraibano Lucas Veloso denunciou a empresa nas redes sociais. O artista disse que sofreu um prejuízo por não ter o retorno financeiro prometido pela empresa. O valor seria investido em forma de patrocínio para o filme de Lucas.

Antônio Ais negou a informação, mas depois de Lucas, outros clientes começaram a relatar atrasos nos pagamentos dos investimentos. A advogada Larissa Gatto afirmou, em fevereiro deste ano, que representa 35 clientes da empresa e alega que essas pessoas perderam pelo menos R$ 1,8 milhões.

De acordo com a Braiscompany, os primeiros atrasos foram causados por um aplicativo que estava em fase de testes e deixou os pagamentos lentos. Em seguida, a empresa culpou a corretora de criptoativos, Binance, passou a travar as operações e limitar a capacidade de pagamento.

Empresa é alvo de operações da Polícia Federal

Polícia Federal faz operação na sede da Braiscompany em Campina Grande

Ewerton Correia/TV Paraíba

A Braiscompany foi alvo de uma operação da Polícia Federal no dia 16 de fevereiro, que teve como objetivo combater crimes contra o sistema financeiro e o mercado de capitais. As ações da PF aconteceram na sede da empresa e em um condomínio fechado, em Campina Grande, e em em João Pessoa e em São Paulo. A operação foi nomeada de Halving.

No dia 23 de fevereiro, aproximadamente R$ 15,3 milhões foram bloqueados de contas de pessoas vinculadas à Braiscompany. De acordo com a PF, os sócios da Braiscompany movimentaram cerca de R$ 1,5 bilhão nos últimos quatro anos, e estão foragidos.

Várias cédulas foram apreendidas pela PF na sede da Braiscompany

Divulgação/Polícia Federal

Os sócios da empresa Braiscompany, Antônio Neto Ais e Fabrícia Ais, tiveram os seus pedidos de prisões temporárias convertidas em preventivas no dia 24 de fevereiro. Assim os seus nomes foram incluídos na lista de procurados da Interpol, a polícia criminal internacional que age em todo mundo. A informação foi confirmada pela Polícia Federal na Paraíba.

Em setembro deste ano a empresa foi alvo da 4ª operação da Polícia Federal para combater lavagem de dinheiro decorrente dos crimes contra o sistema financeiro e contra o mercado de capitais.

Fundadores estão foragidos há 9 meses

Antônio Inácio da Silva Neto, conhecido como Antônio Neto Ais, e Fabricia Ais, fundadores da Braiscompany

Reprodução/Braiscompany

Além da taxa de retorno financeiro muito acima do regularmente praticado no mercado, boa parte da atração exercida pela Braiscompany está ligada à imagem de seu fundador, Antônio Inácio da Silva Neto. Ele adotou suas três primeiras iniciais como sobrenome e se apresenta como Antônio Neto Ais.

Quem é Antônio Neto Ais, fundador e CEO da Braiscompany

O empresário mantinha um Instagram com fotos bem produzidas, registros ao lado de celebridades e vídeos motivacionais. Quando o golpe estourou, sua rede social registrava 900 mil seguidores, que consumiam conteúdo sobre uma vida de luxo e sucesso individual.

Segundo Antônio Neto Ais, CEO da Braiscompany, sucesso da empresa se dá ao mercado em que ela está inserida e ao modelo de gestão da empresa.

Camila Ferreira/Braiscompany

Neto Ais é casado com Fabrícia Ais, que é sócia e co-fundadora da empresa. Os dois estão foragidos desde fevereiro deste ano.

Em setembro, o g1 teve acesso ao relatório da Polícia Federal que afirma que ambos fugiram do país pela fronteira terrestre com a Argentina. Eles utilizaram os passaportes da irmã e do cunhado de Fabrícia.

Além de ser sócia e co-fundadora da Braiscompany, Fabrícia Ais é criptotrader profissional

Camila Ferreira/Braiscompany

Explicações em live e posicionamento da Binance

Em fevereiro deste ano, Neto Ais fez uma live no Instagram para apresentar suas justificativas sobre a suspensão de pagamentos de dividendos para os clientes. Ele afirmou que a corretora de criptomoedas Binance, a maior do mundo, estava realizando bloqueios constantes, o que teria impacto nas atividades da empresa.

A Binance é uma espécie de bolsa para transações entre ativos virtuais ou para converter dinheiro convencional em criptos.

Procurada pelo g1, a Binance enfatizou, à época, que "atua em total colaboração com as autoridades para coibir que pessoas mal intencionadas utilizem a plataforma". Em nota, a corretora informou, por meio da assessoria de imprensa, que "não realiza quaisquer ações em contas que não sejam devidamente embasadas nos termos e condições, contratos e políticas vigentes e aceitos por todos os usuários. Todos os usuários da Binance no mundo têm acesso 24h, 7 dias por semana, à Central de Suporte da Binance, que oferece atendimento em dezenas de idiomas".

"A exchange ressalta que tem uma equipe de investigação de renome mundial, com ex-agentes que trabalham em constante coordenação com autoridades locais e internacionais no combate a crimes cibernéticos e financeiros, inclusive no rastreamento preventivo de contas suspeitas e atividades fraudulentas."

Em março deste ano, Antônio Ais publicou uma nova nota e afirmou que o crescimento e sustentabilidade da empresa foram interrompidos por causa da queda do bitcoin e do mercado criptomoedas. Leia a nota na íntegra.

"Todavia, vários fatores começaram a prejudicar nosso crescimento e sustentabilidade: a queda do bitcoin e do mercado cripto como um todo; fatores como a quebra da FTX; sem falar na pressão de autoridades e entidades, nas quais a verdade sobre este assunto chegará o tempo, e tudo virá à tona".

Antonio Ais também reitera a sua responsabilidade no caso e afirma ter tomado decisões erradas, apesar de não detalhar quais foram. Ele também comenta que foi "otimista em relação ao Brasil" e cita a realidade do país como fator determinante na situação da empresa.

"Errei em algumas decisões, talvez tenha sido muito otimista em relação ao Brasil (...). Empreender no Brasil é um desafio. Empreender inovando, o desafio é ainda maior".

Por fim, Antonio Neto Ais pede perdão aos clientes lesados e diz que deseja "dias melhores a todos" e "que a verdade prevaleça".

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