Abalo
A escolha de Dino abalou a cúpula do PT, que não esconde a contrariedade com a decisão. Dirigentes da agremiação queriam emplacar o advogado-geral da União, Jorge Messias, que é próximo do partido, especialmente do líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA). Dino é visto como adversário político não apenas por bolsonaristas como também pela ala majoritária do PT desde os tempos em que era governador do Maranhão. Nos bastidores, integrantes do comando petista observam que, mesmo no Supremo, nada impede que Dino deixe a Corte para disputar a Presidência da República na eleição de 2030. O ministro é filiado ao PSB, sigla que também abriga o vice, Geraldo Alckmin. A portas fechadas, Dino sempre disse que uma hipótese dessas seria uma "loucura". Na avaliação de senadores e deputados do PT ouvidos pelo Estadão, sob reserva, o sentimento no partido é o de que Lula ignorou o seu próprio partido ao tomar a decisão não apenas porque confia em Dino, mas também para contemplar os ministros do STF Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes. Os dois magistrados defenderam os nomes de Dino para o STF e do subprocurador Paulo Gonet para o comando da Procuradoria-Geral da República (PGR).Capelli
A provável indicação de Capelli como ministro interino da Justiça, até a escolha do sucessor de Dino, também é outro fator de insatisfação nas fileiras do PT. No diagnóstico da cúpula petista, Lula está dando três "trancos" no partido com suas decisões, um atrás do outro. O primeiro deles está na escolha de Dino para o Supremo. O segundo seria deixar Capelli, um desafeto da legenda, como interino no Ministério da Justiça. O terceiro é que uma importante ala do PT já trabalhava para apaziguar o descontentamento provocado pela indicação de Paulo Gonet como procurador-geral da República, no lugar de Augusto Aras, na expectativa de que Lula "compensasse" o partido e indicasse Jorge Messias para a cadeira antes ocupada por Rosa Weber no STF Não foi o que ocorreu. Na quinta-feira passada, Dino e Messias - ambos na condição de postulantes à cadeira na Corte - participaram de um jantar organizado por Lula com os ministros do STF Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes e Cristiano Zanin. Foi uma tentativa de reduzir a tensão depois que o Senado aprovou uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para restringir as decisões individuais dos ministros da Corte. Sob reserva, ministros disseram ao Estadão que, após a saída de Dino e de Messias da reunião no Alvorada, Lula confirmou a eles suas escolhas.Manifesto
Na semana passada, grupos de esquerda chegaram a enviar a Lula um manifesto contra a indicação de Paulo Gonet para a PGR, sob o argumento de que ele era "ultraconservador", com passagens que colidiam com a defesa dos direitos humanos. Estadão Conteúdojornaldebrasilia.com.br