"Desbabaquise-se! Torça contra o Flamengo", é o que propõe um jornalista nordestino

No vídeo que publiquei nesta terça-feira (23) no Instagram do Jornal de Brasília, tentei mostrar a força que o Flamengo tem no Norte e Nordeste, batendo recordes de público nos jogos que disputou em Manaus e em João Pessoa, pelo Campeonato Carioca.

Por Vale do Piancó -PB em 24/01/2024 às 06:45:48
Foto: Reprodução internet

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Desbabaquise-se. Torça contra o Flamengo

* Por Evaldo Costa

Começo estas linhas declarando que sou paraibano. Nasci em uma microcidade da região do Cariri, chamada Parari, distante 230km de João Pessoa, mas vivo no Recife desde a adolescência. Isso é importante porque vou falar muito mal, na maior parte deste texto, dos paraibanos que lotam estádios e ateiam fogo às vestes para torcer pelo Flamengo. Os paraibanos têm um time chamado Botafogo mas, repito, se automutilam pelo Flamengo. E isso dói muito em mim.

Não chego a tanto, mas sou obrigado, pelo dever da verdade, a mencionar que, no Recife, são chamados de "paraibacas" os paraibanos que invadem os estádios pernambucanos para torcer pelo Flamengo quando este enfrenta Santa Cruz, Náutico e Sport. Não existem flabababacas somente na Paraíba. Brasília é outra localidade superlotada de babacas flamenguistas ou flamenguistas babacas. O mesmo podemos falar de Manaus e de Cuiabá. Pelo que sei, são raros em São Paulo, Recife, Porto Alegre e BH.

Ora, algum desavisado pode estar se perguntando porque ser paraibano, cuiabano ou manauara e torcer pelo flamengo é uma babaquice. Eu explico e qualquer um pode entender – se quiser. Estas pessoas, induzidas pela televisão, se integraram a um fenômeno tipicamente brasileiro - talvez exclusivamente brasileiro - que é uma torcida nacional.

Torcida nacional é jabuticaba, só existe no Brasil. Na Itália, ninguém em Milão quer que a Juventus vença, enquanto em Turim todos secam a internazionale. Não há em Norwich ou Bournemouth quem torça por time de Londres ou Manchester. Ninguém em Liverpool torce pelo Chelsea e ninguém em Londres vibra com o Aston Villa, de Birmingham. Claro, tem gente que está de passagem ou, como eu, se mudou e se fixou em outra cidade. No mais, vale a fidelidade às cores da infância. Mais: Quando vai enfrentar o West Ham na casa do rival, na mesmíssima cidade de Londres, a uns 15 kms de distância, o Arsenal joga sozinho contra um estádio lotado. Não há torcedor do Arsenal perto da casa do Chelsea ou do Crystal Palace.

Eis uma das razões pelas quais a Premier League é o melhor campeonato de futebol do mundo e o mais equilibrado – pelo alto. A distribuição das receitas respeita as posições anteriores, mas procura, com muito zelo, produzir equilíbrio para que haja sempre jogos emocionantes e de resultado imprevisível. Principalmente, procura agregar torcidas e não fazer todo mundo torcer por um time só, gerando desinteresse e – atenção – deslocando a atenção para os campeonatos estrangeiros.

Outra coisa que precisamos lembrar é que toda esta babaquice começou com a emergência do poderio massificante da Rede Globo, nos anos 1970 / 1980 do século passado. Antes o Flamengo era um time comum, com torcida grande no Rio, mas disputando com Botafogo, Vasco e Fluminense. O Flamengo era paupérrimo em títulos nacionais antes – repito – da emergência desse elemento triturador das identidades regionais brasileiras.

Sabe quantas Taças Brasil foram ganhas pelo Mengo entre 1959 e 1970? Nenhuma! Sabe quantos Torneios Rio – São Paulo o Flamengo ganhou de 1933, quando começou a acontecer, até à última edição? Somente um miserável títulozinho, enquanto o Palmeiras ganhava cinco, o Botafogo quatro, a Portuguesa de Desportos dois e por aí vai. E, por fim, responda, se souber, quantos jogadores do Flamengo integraram a lista de 22 tricampeões mundiais de 1970. Eu digo: zero flamenguistas. Zero!!!

O desporto norte-americano não tem instituições como como os clubes de futebol do Brasil, da Itália ou da Inglaterra. As rivalidades de lá são cultivadas entre cidades. As ligas não cogitam que todos os americanos, de costa à costa, torçam para um time de Nova York ou de Los Angeles. Eles garantem a diversidade. Já no Brasil, estamos entrando na era do time único.

Por isso, para a grandeza do futebol brasileiro, pela diversidade e pluralidade, torça e ajude o time perto da sua casa. E, sobretudo, despasteurize-se. Seja um babaca a menos: seque o Flamengo (exceto contra os argentinos).

  • Evaldo Costa é jornalista e torcedor do Santa Cruz Futebol Clube, do Recife.

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Fonte: jornaldebrasilia.com.br

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