BIRA E A SANTA

Seu Erondino e Dona Joana já tinham sete filhos, quando chegou o garotão que batizaram – e registraram – por Ubiratan Silva do Espírito Santo que, logo, seria apelidado por Bira.

Por Vale do Piancó -PB em 31/03/2024 às 11:20:13

Bira comeu a bola no amistoso contra os paraenses e estes descobriram o goleador que ptecisavam. Ele foi embora, sentindo uma tremenda saudada da vidinha que levava em Macapá e do terço que rezava, semanalmente, para Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Mas a santa o compensou – e o diabo o descompensou. História complicada.

Era 1976 e os cartolas do Paysandu razuraram o contrato de Bira, passando-om de uma, para duas temporadas. O Clube do Remo, maior rival do Papão (apelido do Paysandu) que estava de olho nele, foi à briga e faz rolar uma das maiores crises dentro da Federação Paraense de Futebol. Ao final do rolo, o Paysandu desiste do título de campeão estadual (perder os pontos dos jogos em que Bira atuou com o contrato mexido), recebe mais Cr$ 50 mil cruzeiros (boa grana na época daquele moeda) e cede o seu artilheiro ao Remo – inédito no futebol mundial.

Entre 1977 e 1979, quando foi tricampeão paraense, Bira marcou 115 gols pelo "Leão" (apelido do Remo) e tornou-se o quinto maior artilheiro do clube – Mesquita (132), Quibas (154), Alcino (159) e Dadinho (163) estão a sua frente. Era 1979, quando o diretor de futebol do Internacional-RS, Federico Balvé, telefonou para o antigo artilheiro colorado Dario, o folclórico Dadá Maravilha, pedindo informações sobre o artilheiro do azulino (como Remo é, também, chamado). E ouviu:

Petequeia a maricota legal, sabe onde a coruja dorme e, com ele, a nega tá lá dentro. É jogador do meu time, respondeu o Dadá, usando a linguagem dos speakers esportivos e de antigamente recomendando a contratação – na época, ele ele defendia o Paysandu, já em final de carreira.

Bira chegou ao Rio Grande do Sul achado o mundo todo diferente. Para quem havia passado 24 viradas de calendário vivendo pelo Norte do país, realmente, aquele era um novo mundo, sem tacacá, tucupi, taperebá, carimbó, nada, enfim, da sua Amazônia. Estreou em 26 de setembro, em Inter 2 x 1 Santa Cruz, no Arrudão, em Recife, marcando um gol e saíndo de campo com um braço fraturado, pra ficar um mês sem bola. Na volta, em 28 do mesmo mês, marcou dois gols, em Inter 5 x 1 Rio Branco-ES, no Beira-Rio, mas jogou por toda a partida. E nem na seguinte, em 7 de novembro, quando não marcou gol, em Inter 1 x 0 Goytacaz-RJ, novamente, no Beira Rio – saiu de campo sentindo dor no braço machucado. Pra piorar, em sua quarta partida colorada, em 11 de novembro, marcou um gol de Inter 3 x 1 São Paulo, na gaúcha casa colorada, mas levou uma pancada no braço machucado e teve que deixar o gramado. Era muita falta de sorte: não conseguia completar uma partida.

Bira saiu da vitória sobre os são-paulinos chorando e decidido a não usar mais a camisa 9 do Internacional. Jamais tivera problemas com lesões no futebol amador de Macapá e nem no profissional paraense. Lembrou-se então, de levar um papo com a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Por os colegas não saberem onde ficava a igreja da santa, em Porto Alegre, foi á famosa e conhecidíssima gruta de Nossa Senhora de Lourdes, no Morro da Glória. Estendeu a camisa 9 colorada diante do altar, ajoelhou-se, rezou e não pediu muito: só conseguir jogar por 90 minutos.

Vei o quarto jogo colorado de Bira, no 18 de novembro, no Beira-Rio. O adversário era a fraca goiana Anapolina. Ele confiava em Nossa Senhora e decidira jogar com a camisa 9. Foi escalado ao lado de craques como Mauro Galvão, Falcão e Mário Sérgio e brigou muito com os becões malvados pelos 90 minutos do jogo que terminou em 0 x 0. Para o brincalhão Mário Sérgio, seu parceiro Bira recebera graças do além pela metade – nem tanto, pois nos jogos seguintes – Inter 1 x 0 Goiás (02.12); 3 x 2 Palmeiras (13.12); 1 x 1 Palmeiras (16.12); 2 x 0 Vasco da Gama (20.123) e 2 x 1 Vasco (23.12) Bira esteve presente em todos eles e saiu de campo cheio de graça, campeão brasileiro.

Fonte: jornaldebrasilia.com.br

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