A questão foi discutida nesta quinta-feira (12) na sede da Câmara Americana de Comércio (Amcham), na capital paulista. No evento, o representante adjunto do Acnur no Brasil, Oscar Sánchez Piñeiro, disse que 80% dos afegãos refugiados têm pelo menos o ensino médio completo e que 59% concluíram o ensino superior ou mesmo uma pós-graduação. Isso significa que se trata de um contingente com qualificação, destacou.
Mesmo com alto nível de educação formal, os afegãos, assim como outros imigrantes e refugiados que chegam ao Brasil, esbarram em uma série de obstáculos ao se candidatar a uma vaga de emprego. Por esse motivo, o Acnur recomenda que, ao abrir as portas para eles, as empresas atentem para alguns aspectos. As companhias devem procurar oferecer vagas que não exijam fluência em português, um idioma muito diferente do que é falado no Afeganistão.Outra sugestão é indicar um funcionário como referência para o qual o colega afegão possa recorrer, durante o processo de integração, depois de admitido na empresa, como observa a assistente de Soluções Duradouras do Acnur, Camila Sombra. "O que ajuda a desenvolver a fluência no idioma é justamente a convivência", afirma Camila.
A chefe do escritório do Acnur em São Paulo, Maria Beatriz Bonna Nogueira, ressaltou que, até poucos anos atrás, as práticas chamadas de ESG (Environmental, Social and Governance, sigla que pode ser traduzida como ambiental, social e governança) nem sequer mantinham em seu radar as necessidades de refugiados, questão humanitária que ganhou mais atenção apenas recentemente.
De acordo com levantamento do Acnur, a maioria dos afegãos atendidos pela agência é de profissionais jurídicos, sociais e culturais, como jornalistas, advogados, assistentes sociais e economistas. O segundo maior grupo é o de profissionais da área de educação. Em seguida, vêm gerentes administrativos e comerciais, profissionais de negócios e administração, de saúde, militares e pessoal da área de segurança, além dos que atuam nos campos de ciência e engenharia e dos técnicos de informação e comunicação. Em menor número, estão os vendedores.
O Hospital Israelita Albert Einstein é um dos locais de São Paulo que têm sinalizado abertura e dado boas-vindas aos refugiados e imigrantes. Atualmente, a equipe da unidade conta com 48 refugiados de diversas nacionalidades.
No Albert Einstein, trabalha a afegã Fatima Rezayee, formada em ciências sociais e administração de empresas e com um MBA no currículo. Há três meses, ela conseguiu o cargo, que não estava vago. O que o setor de recursos humanos fez foi recebê-la e conversar com ela para verificar, a partir de sua qualificação e experiência, no que poderia se encaixar dentro do hospital.
"A gente geralmente não tem a vaga. O que a gente tem é o olhar desse gestor, que está mais sensibilizado, mais aberto, levar até lá e conhecer pessoas. Com isso, a gente vai criar a oportunidade. Esse dinamismo é importante também para que não se espere um fluxo normal, com o qual a gente está mais habituada, para criar as oportunidades de uma forma intencional com as equipes", diz a analista de recursos humanos do hospital, Natany Ribeiro.
Além do Albert Einstein, outras organizações cumprem função igualmente importante, que é a de fazer a mediação entre os trabalhadores e as companhias. A Cáritas Arquidiocesana de São Paulo é uma dessas instituições, ao lado da Missão Paz, que também ajuda os imigrantes e refugiados a elaborar currículos.
Outro caminho é o site Refugiados Empreendedores, plataforma que surgiu no contexto da pandemia de covid-19. No site, são disponibilizadas dicas sobre empreendedorismo, cursos e como obter crédito e microcrédito para tocar negócios e são divulgados negócios já existentes.
Fonte: conceicaoverdade