Um conflito de 500 dias sem perspectiva de fim

Completam-se 500 dias neste domingo (9) o conflito entre Rússia e Ucrânia, iniciado com a primeira invasão coordenada pelo presidente Vladimir Putin em 24 de fevereiro de 2022.

Por Vale do Piancó -PB em 09/07/2023 às 20:38:27

Completam-se 500 dias neste domingo (9) o conflito entre Rússia e Ucrânia, iniciado com a primeira invasão coordenada pelo presidente Vladimir Putin em 24 de fevereiro de 2022. Durante o período, mais de 13 milhões de ucranianos se refugiaram em diferentes países em razão da guerra, conforme dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), atualizados em 4 de julho deste ano. Ainda outros milhões não contabilizados da Rússia e países vizinhos também foram diretamente impactados.

Em pouco mais de 16 meses, pelo menos 9 mil pessoas dos dois países morreram em decorrência do conflito, entre famílias atingidas por mísseis e soldados em combate. A guerra Russo-ucraniana não tem previsão ou perspectiva de fim. No último mês, a Ucrânia assumiu uma posição de contraofensiva aos ataques da nação vizinha e tem desempenhado um papel mais agressivo, a fim de reconquistar território.

Até o momento, a Rússia assumiu o controle parcial das regiões de Donetsk, Luhansk, Kherson e Zaporíjia, e montou uma posição defensiva frente às tentativas de avanços por parte da Ucrânia. Até o início deste mês, os russos fizeram a fortificação das áreas já conquistadas, cavando trincheiras, lançando campos de minas explosivas e diferentes obstáculos nas quatro províncias.

"Os russos anexaram ao seu território formalmente essas quatro províncias em um movimento que é reconhecido pela Rússia, mas por nenhum ou quase nenhum outro país no mundo", destacou o analista de Geopolítica e Política Internacional, Paulo Filho. "E hoje os objetivos da Rússia seriam manter essas quatro províncias. A posse desses territórios dá uma coisa importante para a Rússia, que é uma ligação terrestre com a Crimeia, coisa que eles não tinham antes – tinham apenas por intermédio de uma ponte", completou.

Posição agressiva

O especialista em liderança e coronel da reserva do Exército Brasileiro ressalta ainda que a resistência e a posição mais agressiva por parte da Ucrânia se deu em razão do apoio e recursos recebidos dos países do ocidente (financeiros, armamento, munição, treinamento), tendo os Estados Unidos como principal financiador, mas também o Reino Unido, França, Alemanha, Polônia, além de outros países bálticos e de europeus em geral.

"Isso permitiu que a Ucrânia conseguisse resistir e fazer contraofensivas aos ataques da Rússia, primeiramente ao Leste e ao Sul do Estado, com o campo de batalha ficando em estabilidade desde novembro do ano passado", explicou. As novas tentativas de avanço do país invadido, porém, trazem desafios em razão do poderio militar da antiga União Soviética, que tem uma defensiva melhor organizada e com quantidade de soldados superior.

Risco de piora

A paz entre os dois países, portanto, ainda está distante, conforme explica Paulo – a preocupação está em um maior acirramento entre as partes. Na mesma medida em que a ofensiva russa significa ao país uma anexação de territórios legítimos, a Ucrânia luta para reconquistá-los e expulsar os invasores das regiões ocupadas pelos inimigos. "Uma guerra só acaba quando um dos lados, ou os dois lados, desiste de lutar – ou são forçados a isso. [...] Enquanto um dos lados achar que pode vencer, vai permanecer lutando", disse.

"E é um conflito que tem um potencial muito perigoso de ter outros envolvidos. O ocidente disse que não ofereceria carros de combate, mas depois ofereceu; que não iriam fornecer mísseis de médio alcance, mas depois forneceu; depois disse que não iria mandar avião, mas agora vão mandar avião", analisou. "Estão dizendo que não vão mandar homens, soldados, mas será que não vão mesmo? Se mandar soldados, nós vamos ter um conflito de largas proporções, como não temos desde a Segunda Guerra Mundial."

"Crise humanitária terrível"

Em entrevista ao Jornal de Brasília, o porta-voz da Cruz Vermelha na Ucrânia, Achille Després, destaca que a situação humanitária em decorrência da guerra Russo-ucraniana é "terrível". "É difícil mensurar o sofrimento que o conflito trouxe para as comunidades e para a população. Como organização humanitária, nossos principais esforços estão em fornecer a assistência primária que as pessoas necessitam [nestes contextos]", afirmou.

Pela grande extensão da Ucrânia, pouco maior que o estado de Minas Gerais (603 mil km²), a ajuda humanitária precisa escolher em qual região concentrar esforços. A prioridade está nas comunidades que estão próximas às linhas de frente do conflito. "Então é crucial que nossas equipes alcancem essas pessoas para provê-las com os suprimentos necessários que podem salvá-los, depois de 500 dias de conflitos intensos que estão acontecendo nas regiões", disse Achille.

"Temos equipes que estão indo em localidades de muito difícil acesso, que estão de 10km a 20km da linha de frente, como em Bakhmut, no Leste do país, ou Kherson, mais ao Sul, para entregar suprimentos básicos para os que precisam. Estamos falando de necessidades básicas como comida, água, produtos de higiene pessoal, entre outros. E muitas vezes essas comunidades não recebem nenhuma forma de ajuda porque estão muito próximas à zona de conflito", destacou.

Garantir a segurança tanto das missões humanitárias quanto das populações em assistência nas zonas de conflito é um dos maiores desafios da Cruz Vermelha no país, garantiu Achille. Conforme explicou, o risco para chegar às localidades pretendidas está também no trajeto, uma vez que parte das estradas podem estar com a estrutura destruída ou ainda com um campo minado montado, além do risco das equipes passarem por regiões com conflitos ativos. "Ouvimos constantemente a artilharia em atividade quando estamos na missão humanitária. Estamos trabalhando em áreas muito difíceis e essa é a realidade que muitas comunidades que permanecem nos locais enfrentam diariamente", compartilhou Achille.

Entretanto, conforme destacou, o esforço é necessário uma vez que, se não fossem as assistências prestadas, muitas comunidades não conseguiriam sobreviver. Os refugiados que conseguem alcançar a Cruz Vermelha fora das zonas mais conflituosas, muitas vezes com crianças e famílias inteiras, precisam ter uma sensação, ainda que primária, de segurança.

O inverno foi um dos períodos mais difíceis para prestar assistência humanitária e o fato de ter um abrigo com calor e uma comida na mesa para os membros das famílias de refugiados significa muito para os que enfrentam a crise. O auxílio prestado também tem sido financeiro para as comunidades, provendo dinheiro diretamente para as contas bancárias de muitos que fugiram do conflito. Já foram distribuídos aproximadamente R$ 600 milhões para as milhares de famílias.

A maior parte dos ajudados na crise humanitária são mulheres de todas as idades – muitas delas jovens mães cujos maridos foram lutar no conflito –, e crianças. Pessoas deficientes e idosos também são alguns dos perfis encontrados nas comunidades em que prestam auxílio. "A guerra está afetando a todos na Ucrânia. Até mesmo na capital Kiev é possível ouvir os altos sons das explosões dos mísseis durante a noite – e mesmo nessas circunstâncias as pessoas têm demonstrado muita solidariedade", acrescentou.

Àqueles que desejam ajudar a Cruz Vermelha a oferecer ajuda humanitária aos que são diretamente afetados pela Guerra da Ucrânia, ou em outras crises ao redor do mundo, incluindo o Brasil, podem fazer doações no site oficial da organização: http://www.cruzvermelha.org.br/pb/institucional/doacoes/.

Fonte: jornaldebrasilia.com.br

Comunicar erro

Comentários

Anuncie Aqui